ANALOGIA ENTRE O ADOECIMENTO E AS DEMANDAS DO TRABALHO EM SAÚDE NA ATENÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Autores

  • Fábio Urbini Carnevalli UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
  • Giovanni Gurgel Aciole UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

Resumo

INTRODUÇÃO: O trabalho em saúde é caracterizado pela peculiaridade de modificar uma situação ou realidade no exato momento em que é produzido, ou seja, trabalhar na área da saúde é desenvolver uma atividade denominada “trabalho vivo em ato” (MERHY, 2008). Como tal prática profissional está em constante processo de transformação, em especial na atenção básica, se faz necessário investigar a saúde do trabalhador neste cenário de práticas, uma vez que a qualidade na produção do cuidado em saúde possui analogia direta com o adequado desempenho profissional, que por sua vez poderá ser influenciado pelo estado da saúde física e mental do trabalhador (CARVALHO, 2012). OBJETIVOS: O objetivo principal desta pesquisa foi analisar e compreender a relação das demandas do trabalho neste cenário como possíveis fatores implicantes para o adoecimento dos trabalhadores da atenção básica, segundo a visão dos próprios profissionais. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenvolvida no município de São Paulo, onde foram realizados cinco grupos focais com trabalhadores de formações profissionais distintas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade, correspondendo uma UBS por Coordenadoria Regional de Saúde, a saber: Leste; Centro-Oeste; Norte; Sul e Sudeste. Para o desenvolvimento da pesquisa, foi elaborado um roteiro pré-definido de perguntas que remetesse aos grupos a discussão de questões relacionadas ao trabalho em saúde e saúde do trabalhador na atenção básica. RESULTADOS: Ao longo dos grupos, os sujeitos de pesquisa revelaram que as diversas demandas do trabalho concomitantes ao estresse do dia-a-dia geradas por cobrança de chefias para alcance de metas e produtividade, demandas do usuário e da comunidade de maneira ameaçadora, a falta de apoio e colaboração para o trabalho em equipe e dificuldades para o bom desenvolvimento dos processos de trabalho entre os profissionais, aliado a escassez de recursos humanos em saúde, vulnerabilidades como a insegurança de unidades alocadas em territórios violentos, estrutura física inadequada e barreiras arquitetônicas nas UBS e insuficiência de insumos e equipamentos de proteção individual são fatores que implicam no processo saúde doença para o trabalhador da atenção básica. CONCLUSÃO: O bom desempenho das práticas profissionais em saúde está intimamente relacionado à harmonia do trabalhador com seu trabalho, e que consequentemente este processo poderá ser determinante para o adoecimento ou não do profissional, bem como a qualidade do cuidado prestado ao usuário do sistema de saúde. Para tanto, sugere-se que a gestão central do município, as coordenadorias regionais e as organizações sociais de saúde que administram os serviços planejem a implantação em nível municipal de um programa que vislumbre o cuidado em saúde para o trabalhador em caráter preventivo e curativo respeitando as singularidades de cada profissional e cada território.