VOZES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS: CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO MÉDICA, SEGUNDO O EXTRATO NARRATIVO DE UMA COORTE DE PUÉRPERAS
DOI:
https://doi.org/10.18310/2446-4813.2017v3n4p367-388Palavras-chave:
Gravidez na adolescência, Saúde da mulher, Saúde do adolescente, Educação médicaResumo
Trata-se de artigo resultante de uma pesquisa com adolescentes grávidas, uma amostra de 136 meninas, dentre 540 de uma coorte acompanhada ao sul do Brasil. Busca contribuir à educação médica, colocando os termos da “atenção” e da “educação para a atenção”, sob os desígnios da “integralidade e humanização”. O objetivo foi trazer as “vozes” das adolescentes grávidas, sem representação, mas expressão. Sem uma “figura” à realidade, mas o acesso à “real” realidade (viva, não representada). A metodologia foi qualitativa, com base em questionário e temas geradores. Foram coletados dados de perfil da população (organizados em uma tabela de “perfil quantitativo”) e manifestações verbais (mantidas intactas em um quadro de “expressão original”). Uma distinção importante do convencional é que o artigo se orienta pelo “encontro terapêutico”, não pela prevenção da gravidez, tampouco por políticas para a saúde de adolescentes e nem pela orientação à gestão da clínica/redes de atenção. Reconhece nas produções em conjunto de docentes e estudantes em medicina, enfermagem ou psicologia a mesma abordagem: a gravidez na adolescência como indesejável (desde um ponto de vista da saúde pública e desde um ponto de vista que a trata como obviamente indesejada pela adolescente, com sugestões de educação e prevenção, acompanhada da queixa de falta de políticas e da necessidade de compartilhar conhecimento adequado). Em discrepância dessa linha de pensamento, o artigo explora abordagens ampliadas. Na conclusão, desafia à troca de sentidos e à partilha de significados no encontro terapêutico para que diga respeito às “singulares meninas grávidas”. Meninas na consulta médica são reais, não números, já estão grávidas, não há o que prevenir, e já estão na cena do cuidado, requerem atenção com ligação e afinidade. Desafia – na atenção e na educação para a atenção – tanto habilidades e capacidades, quanto condições de composição cognitiva para atender/tratar/cuidar com alteridade, envolvimento e “intensa amizade”. O artigo revela um componente de “informação populacional” (a amostra) e outro de “sentidos para o encontro” (a noção de voz). A cena da atenção é singular e é real, a educação para a atenção precisa dessa inclusão (subjetiva e objetiva). O artigo polariza “gestão da clínica ou epidemiologia”, que somente passam como “informação”, e as “vozes” daquelas a quem se vai tratar/atender/cuidar e que devem passar ao corpo do terapeuta/cuidador como acolhimento/guarida.Referências
Brasil. Lei 8.069, de 13 julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 16 jul. 1990.
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção em Saúde. Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Marco legal: saúde, um direito de adolescentes. Brasília:MS,2005.
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção em Saúde. Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescente e de Jovens; 18 Jan 2007. [capturado 08 mai. 2016] Disponível em: http://www.redesaude.org.br/home/conteudo/biblioteca/biblioteca/politicas-e-programas/013.pdf
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção em Saúde. Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Brasília:MS,2010.
Silva RS; Silva VR. Política Nacional de Juventude: trajetória e desafios. Cad. CRH. 2011; 24(63):663-678.
Ceccim RB, Moraes M, Dartora-Santos NM. Políticas do feminino e o ensinar e cuidar em saúde da mulher. In: Ceccim RB, Stedile NLR organizadores. Ensino e atenção à saúde da mulher: aprendizados da integração da educação superior com a rede assistencial. Caxias do Sul:Editora da UCS;2007. p.45-58.
Dias ACG; Teixeira MAP. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paidéia (Ribeirão Preto). 2010; 20(45):123-131.
Oliveira EFV; Gama SGN; Silva, CMFP. Gravidez na adolescência e outros fatores de risco para mortalidade fetal e infantil no município do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2010; 26(3): 567-578.
Pinheiro RT, Azevedo-Silva R, Coelho FMC, Quevedo LA, Souza LD, Castelli RD et al. Major depressive disorder during teenage pregnancy: socio-demographic, obstetric and psychosocial correlates. Rev Bras Psiquiatr. 2013; 35(1):51-56.
Pinheiro RT, Azevedo-Silva R, Coelho FM, Quevedo LA, Peter PJ, Mola, CL. et al. Association between perceived social support and anxiety in pregnant adolescents. Rev Bras Psiquiatr. 2017; 39(1)21-27.
Scott RP. Quase adulta, quase velha: por que antecipar as fases do ciclo vital? Interface (Botucatu). 2001; 5(8):61-72.
Manfré CC; Queiróz SG; Matthes ACS. Considerações atuais sobre gravidez na adolescência. R. Bras. Med. Fam. e Comun. 2010; 5(17):48-54.
Dadoorian D. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Psicol. cienc. prof. 2003; 23(1):84-91.
Araújo RLD; Nóbrega AL; Nóbrega JYL; Silva G; Sousa KMO; Coelho DC; Borges HE. Gravidez na adolescência: consequências voltadas para a mulher. INTESA (Pombal - PB - Brasil). 2015; 9(1):15-22.
Leite MP; Bohry S. Conflitos relacionados à gravidez na adolescência e a importância do apoio familiar. Encontro: R. Psicol. 2012; 15(23):113-128.
Nascimento MG; Xavier PF; Passos de Sá RD. Adolescentes grávidas: a vivência no âmbito familiar e social. Adolesc. Saúde. 2011; 8(4):41-47.
Munslinger IM; Silva SM; Bortoli CFC; Guimarães KB. A maternidade na perspectiva de mães adolescentes. Rev Bras Promoç Saúde. 2016; 29(3):357-363.
Spindola T; Ribeiro KS; Fonte VRF. A vivência da gravidez na adolescência: contribuições para a enfermagem obstétrica. Adolesc. Saude. 2015; 12(1):50-56.
Brito JS, Silva ACC, Lacerda SNB et al. Dificuldades enfrentadas na perspectiva da gestante adolescente cadastrada na estratégia saúde da família. Rev enferm UFPE on line. 2015; 9(11):9833-9838.
Santos PFBB, Santos ADB, Mota GM, et al. Significados da maternidade/paternidade para adolescentes que vivenciam esse processo. R. Enferm. Cent. O. Min. 2015; 5(2):1629-1642.
Zanchi M; Kerber NPC; Biondi HS; Silva MR; Gonçalves CV. Maternidade na adolescência: ressignificando a vida? J Hum Growth Dev. 2016; 26(2):199-204.
Coutinho da Silva EL; Carvalho Lamy Z; Leda Fonseca Rocha LJ; Araújo Mendonça FM; Rodrigues de Lima J. Gravidez e dinâmica familiar na perspectiva de adolescentes. Bol. Acad. Paul. Psicol. 2014; 34(86): 118-138.
Pedro Filho, FP; Sigrist, RMS; Souza, LL; Mateus, DC; Rassam, E. Perfil epidemiológico da grávida adolescente no município de Jundiaí e sua evolução em trinta anos. Adolesc Saude. 2011; 8(1):21-27.
Pinto JF; Oliveira VJ; Souza MC. Perfil das adolescentes grávidas no setor saúde do município de Divinópolis. R. Enferm. Cent. O. Min. 2013; 3(1):518-530.
Diniz E; Koller SH. Fatores associados à gravidez em adolescentes brasileiros de baixa renda. Paidéia (Ribeirão Preto). 2012; 22(53):305-314.
Prietsch SOM; Gonzalez-Chica DA; Cesar JA; Mendoza-Sassi RA. Gravidez não planejada no extremo Sul do Brasil: prevalência e fatores associados. Cad. Saúde Pública. 2011; 27(10):1906-1916.
Patias ND; Jager ME; Fiorin PC; Dias ACG. Gestações na adolescência: multiplicidade de experiências em uma unidade básica de saúde de Santa Maria/RS. R. Intern. Interdisc. INTERthesis. 2012; 9(1):260-277.
Moraes M; Ceccim RC. Adolescentes grávidas: contribuição à assistência e ao ensino, segundo o relato de suas trajetórias. Saúde em redes. 2016; 2(4):433-444.
Ceccim RB; Capozzolo AA. Educação dos profissionais de saúde e afirmação da vida: a prática clínica como resistência e criação. In: Marins JJN et al. organizadores. Educação médica em transformação: instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo:Hucitec; 2004. p.346-390.
Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 4.279, de 30 dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União. Brasília, 30 dez. 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais para artigos publicados neste periódico são do autor, com os direitos de publicação para o periódico. Este periódico é de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no link a seguir https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR).