VOZES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS: CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO MÉDICA, SEGUNDO O EXTRATO NARRATIVO DE UMA COORTE DE PUÉRPERAS

Autores

  • Ricardo Burg Ceccim Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Maurício Moraes Centro de Ciências da Vida e da Saúde, Universidade Católica de Pelotas

DOI:

https://doi.org/10.18310/2446-4813.2017v3n4p367-388

Palavras-chave:

Gravidez na adolescência, Saúde da mulher, Saúde do adolescente, Educação médica

Resumo

Trata-se de artigo resultante de uma pesquisa com adolescentes grávidas, uma amostra de 136 meninas, dentre 540 de uma coorte acompanhada ao sul do Brasil. Busca contribuir à educação médica, colocando os termos da “atenção” e da “educação para a atenção”, sob os desígnios da “integralidade e humanização”. O objetivo foi trazer as “vozes” das adolescentes grávidas, sem representação, mas expressão. Sem uma “figura” à realidade, mas o acesso à “real” realidade (viva, não representada). A metodologia foi qualitativa, com base em questionário e temas geradores. Foram coletados dados de perfil da população (organizados em uma tabela de “perfil quantitativo”) e manifestações verbais (mantidas intactas em um quadro de “expressão original”). Uma distinção importante do convencional é que o artigo se orienta pelo “encontro terapêutico”, não pela prevenção da gravidez, tampouco por políticas para a saúde de adolescentes e nem pela orientação à gestão da clínica/redes de atenção. Reconhece nas produções em conjunto de docentes e estudantes em medicina, enfermagem ou psicologia a mesma abordagem: a gravidez na adolescência como indesejável (desde um ponto de vista da saúde pública e desde um ponto de vista que a trata como obviamente indesejada pela adolescente, com sugestões de educação e prevenção, acompanhada da queixa de falta de políticas e da necessidade de compartilhar conhecimento adequado). Em discrepância dessa linha de pensamento, o artigo explora abordagens ampliadas. Na conclusão, desafia à troca de sentidos e à partilha de significados no encontro terapêutico para que diga respeito às “singulares meninas grávidas”. Meninas na consulta médica são reais, não números, já estão grávidas, não há o que prevenir, e já estão na cena do cuidado, requerem atenção com ligação e afinidade. Desafia – na atenção e na educação para a atenção – tanto habilidades e capacidades, quanto condições de composição cognitiva para atender/tratar/cuidar com alteridade, envolvimento e “intensa amizade”. O artigo revela um componente de “informação populacional” (a amostra) e outro de “sentidos para o encontro” (a noção de voz). A cena da atenção é singular e é real, a educação para a atenção precisa dessa inclusão (subjetiva e objetiva). O artigo polariza “gestão da clínica ou epidemiologia”, que somente passam como “informação”, e as “vozes” daquelas a quem se vai tratar/atender/cuidar e que devem passar ao corpo do terapeuta/cuidador como acolhimento/guarida.

Biografia do Autor

Ricardo Burg Ceccim, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Especialista em Saúde Pública, Mestre em Educação, Doutor em Psicologia, Pós-Doutor em Antropologia Médica. Professor Titular, UFRGS. Professor orientador no Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRGS.

Maurício Moraes, Centro de Ciências da Vida e da Saúde, Universidade Católica de Pelotas

Especialista em Medicina Preventiva e Social, mestre em Educação, doutor em Saúde e Comportamento/Saúde da Mulher, Criança e Adolescente, Professor adjunto, UCPel.

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Publicado

2018-03-18

Como Citar

Ceccim, R. B., & Moraes, M. (2018). VOZES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS: CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO MÉDICA, SEGUNDO O EXTRATO NARRATIVO DE UMA COORTE DE PUÉRPERAS. aúde m edes, 3(4), 367–388. https://doi.org/10.18310/2446-4813.2017v3n4p367-388

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