O OBJETO DE TRABALHO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores

  • Geraldo Eduardo Guedes de Brito UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ PE
  • Antonio da Cruz Gouveia Mendes UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ PE
  • Pedro Miguel dos Santos Neto UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ PE

Resumo

INTRODUÇÃO: A inserção de atividades de ensino no âmbito da Estratégia Saúde da Família (ESF) configura-se como um desafio para as Instituições de Ensino Superior. Para se articular os componentes curriculares ao processo de trabalho das Equipes Saúde da Família (EqSF) é necessário que se conheça a percepção dos trabalhadores e gestores acerca do objeto de trabalho na ESF. OBJETIVO: Identificar e analisar a percepção de trabalhadores da Estratégia Saúde da Família acerca de seu objeto de trabalho. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo qualitativo, operacionalizado pela realização de dezoito entrevistas em profundidade com trabalhadores considerados de referência no município na ESF (três enfermeiros, três cirurgiões-dentistas e três médicos), três trabalhadores do Núcleo de Apoio a Saúde da Família das EqSF dos trabalhadores de referência e seis gestores municipais de uma capital do nordeste do Brasil. A transcrição das entrevistas foi submetida à análise de conteúdo. Esta pesquisa foi aprovada (CAEE: 32415114.8.0000.5190) pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - FIOCRUZ/PE. RESULTADO: Os entrevistados, de maneira geral, apontaram como objeto de trabalho da ESF o sujeito e que possui necessidades em saúde específicas. O reconhecimento do sujeito singular como objeto de trabalho da ESF foi associado à sua abordagem e de sua família. Considerar o núcleo familiar não significou para os entrevistados desconsiderar as necessidades individuais, mas assumir a família como componente ativo no processo de produção do cuidado, ampliando tanto o olhar", que identifica necessidades, quanto o "fazer em saúde", que intervém e corresponsabiliza para modificar. A inserção do usuário em sua comunidade também foi apontada como objeto de trabalho. O componente "comunidade" foi associado a uma ampliação da percepção do escopo de questões a serem consideradas pelos trabalhadores no processo saúde-doença dos usuários, que envolvem realidades como a violência e as condições de moradia e de saneamento". CONCLUSÃO: Os resultados encontrados destacam a relevância da ESF como cenário de práticas para a formação em saúde. Constatou-se que a centralidade no sujeito aponta para uma mudança na produção do cuidado, porque os trabalhadores passam a organizar seu processo de trabalho de acordo com o que o usuário necessita e não mais com o que eles têm a oferecer, abandonando o foco na doença. Incorporar a relação entre o adoecimento individual e o núcleo familiar, amplia a compreensão do processo saúde-doença. Produzir o cuidado tendo como objeto de intervenção a família é uma forma de reverter o modelo fragmentado, descontextualizado dos aspectos socioculturais e centrado na doença. Ao associar às necessidades singulares dos usuários ao contexto sociocultural no qual eles estão inseridos, a ESF rompe radicalmente com o modelo hospitalocêntrico de assistência à saúde e passa a valorizar a multicausualidade. O processo saúde-doença é abordado para além da manifestação de sinais e sintomas determinados por alterações do equilíbrio homestático e incorpora, na estruturação de suas práticas, o conceito de determinantes sociais que valorizam a relevância de múltiplos aspectos socioculturais e familiares.