EDUCAÇÃO, SAÚDE E FISIOTERAPIA EM TEMPOS DE COVID-19

Autores

  • Alberto Sumiya Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.18310/2358-8306.v7n13.ed1

Resumo

 Com grande satisfação celebra-se agora a Edição 2020/1 da Cadernos de Educação, Saúde e Fisioterapia, a qual, diante do contexto desafiador imposto pela COVID-19, vem mantendo o compromisso de compartilhar conhecimentos, a fim de contribuir com a formação e o trabalho do fisioterapeuta. Assegura-se, assim, o desenvolvimento da profissão, que conta com profissionais engajados e comprometidos numa luta histórica e legítima de conquistas, algumas muito bem representadas nos artigos do presente volume.A pandemia encontrou no mundo terreno fértil para a exposição das vulnerabilidades sociais e denúncia da conjuntura desfavorável da saúde para assistir às populações e reduzir o número de mortes. Em países com grandes desigualdades sociais, como o Brasil, a disseminação veio confirmar a precariedade da situação de saúde que já existia, mostrando uma propagação desigual, sendo emblemático que a primeira vítima confirmada no Rio de Janeiro tenha sido uma empregada doméstica. É um desafio sanitário global, de uma doença nova, para a qual a humanidade, além de procurar por imunidade, esforça-se para implantar medidas e estratégias de controle que evitem a saturação dos serviços de saúde.Não obstante, avançam o ultraliberalismo, as fakenews, o negacionismo científico, o corte de investimentos na educação e segurança, seguidos pelo teto de gastos na saúde subfinanciada, pela uberização da economia informal trabalho e polarização entre público-privado, mais o recrudescimento de questões de raça, gênero, sexualidade e meio ambiente, que vinham sendo debatidas com mais aceitação e transparência, sofreram significativo esvaziamento1,2,3. Perplexidades que o Prof. Gastão Wagner denominou como pesadelo macabro da COVID-19 no Brasil e o Prof. André Vianna como a pedagogia da catástrofe.Contudo, as adversidades se transformam em oportunidades para nos reinventarmos e ressignificarmos as práticas. Exemplo disso, são os fisioterapeutas atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS), que assumem o protagonismo no combate à COVID-19 através da vigilância epidemiológica e da utilização de ferramentas como a Telessaúde. Bem como, nos hospitais, reafirmando o seu lugar como linha de frente na prevenção e recuperação de variadas condições funcionais. Ademais, encontram-se como pesquisadores ativos, vide a quantidade de pesquisas on-line em andamento, denotando o empenho com o progresso científico e inovação tecnológica. Como professores, vêm debatendo intensivamente sobre as repercussões sobre o processo de ensino-aprendizagem em relação às novas possibilidades de aprender saúde. E por meio das associações profissionais, têm oferecido parâmetros e condutas norteadores que garantem governabilidade à classe, destacando-se a Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO), que prontamente informa, esclarece e chama a comunidade fisioterapêutica ao debate.            No âmbito da Educação, pontua-se que o ensino remoto é uma política para a redução de danos presentes, em que as tecnologias digitais não buscam substituir o professor e as vivências profissionais. Muitas pautas ainda precisam ser digeridas com planos sistêmicos e contingenciais de médios e longos prazos, que ultrapassem os aspectos didático-pedagógicos para abraçar uma acessibilidade ampliada, ou seja, favorecendo o desempenho ciente das condições heterogêneas de vida dos estudantes, que precisam ser ouvidos. Nesse sentido, as incertezas mais imediatas podem ser dirimidas com materiais de apoio a formação. Como exemplo, temos a World Confederation for Physical Therapy (WCPT)4 que possui em sua website seções com informações para educadores fisioterapeutas e a Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM)5, publicou 16 recomendações sobre a transição para o ensino não presencial, que valem a pena conferir.            Desse modo, trazendo mais saberes, temos os estudos que constituem este volume, os quais materializam a potência dos autores. Os temas traduzem bem a CESF por meio de pesquisas clínicas, saúde coletiva, educação, ensaios teóricos e atualidades. A primeira temática que abre essa apresentação refere-se à análise dos primeiros 50 dias de epidemia da COVID-19 no Brasil, muito apropriado ao panorama contemporâneo. Nas especialidades da Fisioterapia Cardiovascular e Respiratória, três artigos chamam atenção por abordarem, além da capacidade funcional em trabalhadores, a oncologia e a revascularização do miocárdio, evidenciando dados preditores para a prática fisioterapêutica. Na especialidade da Fisioterapia Neurofuncional, temos dois artigos, um como revisão integrativa e o outro como relato de caso, o primeiro discorre sobre as terapias de aprendizado motor em acidente vascular encefálico (AVC) e o segundo um protocolo de tratamento que utilizou na avaliação a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) dentre demais instrumentos.            Na perspectiva de formação profissional, atrelada ao campo da saúde coletiva, três artigos mostraram-se articulados, pois expõem a essencialidade do fisioterapeuta no sistema público de saúde, principalmente para a saúde da família e o matriciamento, que foram complementadas pelas percepções de estudantes do programa PET-Saúde/GraduaSUS e a verificação da inserção da saúde coletiva nos cursos de fisioterapia de instituições públicas do Paraná. Prosseguindo, dois estudos abordam serviço e política pública de saúde, ao caracterizar a auditoria em fisioterapia no SUS – uma seara pouco explorada – e a rede de cuidados e atuação interdisciplinar na atenção da pessoa com deficiência, respectivamente. Assim, finaliza-se este percurso commais dois artigos importantes, um argumentando sobre o papel do fisioterapeuta no envelhecimento ativo e o outro contextualizando os cuidados paliativos na prática fisioterapêutica.Diante desse vasto conteúdo trazido pelos autores, finalizo desejando uma ótima leitura e lembrando que o vírus, como escreve Boaventura de Souza Santos, é nosso contemporâneo ao partilhar conosco as contradições deste tempo, os passados que não passaram e os futuros que virão ou não1. A pandemia providencialmente trouxe questionamentos importantes sobre as estruturas sociais, instituições e práticas, e simultaneamente a mobilização de potenciais de conhecimento, forças positivas e criativas, que devem ser nosso foco, no sentido de assegurar a continuidade da jornada.

Referências

Santos BS. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra, Portugal: Edições Almedina, 2020.

Dantas AV. Coronavírus, o pedagogo da catástrofe: lições sobre o SUS e a relação entre público e privado. Trab Educ Saúde 2020; 18(3): e00281113

Campos GWS. O pesadelo macabro da Covid-19 no Brasil: entre negacionismos e desvarios. Trab Educ Saúde 2020; 18(3):e00279111.

World Confederation for Physical Therapy. Covid-19: education-based resources. [acesso em 17/06/2020]. Disponível em: https://www.wcpt.org/covid19/education

Universidad Nacional Autónoma de México. Coordinación de Desarrollo Educativo e Innovación Curricular. Recomendaciones para la transición a la docencia no presencial. [acesso em 18/06/2020] Disponível em: https://www.codeic.unam.mx/index.php/recomendaciones-para-la-transicion-a-la-docencia-no-presencial/

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Publicado

18-07-2020