EDITORIAL

Autores

  • Giovanni Aciole Universidade Federal de São Carlos

DOI:

https://doi.org/10.18310/2358-8306.v1n2p05

Resumo

            Repensar os processos de ensino-aprendizagem na saúde e, junto com eles, reinventar os usos e relações entres os diferentes cenários de práticas, promovendo rupturas e dissensos entre os velhos modos de pensar o ensino e as práticas de saúde tem sido a tônica das últimas décadas no mundo e, particularmente, no Brasil.            Em nosso país, este cenário de rupturas e continuidades tem promovido um intenso debate, movido por experimentação de ideias e inovações, reformas curriculares e um sem número de reflexões sobre os novos sentidos e intencionalidades que devem ser postos e/ou repostos nesta lide cotidiana do ensino em saúde, de triplo desafio: cuidar de pessoas enquanto se ensina outras a cuidarem daquelas; sem descuidar de si mesmas; e sem desconsiderar os processos, contextos e cenários fragmentados em que se espalha a peleja pela produção de cuidado e promoção da saúde com qualidade e denodo. Aliás, tripla demanda da sociedade que tem, enquanto tal, reclamado pela sensação de insegurança e incerteza que a acomete todas as vezes em que se depara com os serviços e ações de saúde quando lhe são prestadas e ofertadas de maneira 'fria', tecnicista, desumanizada, burocraticamente organizada, economicamente centrada. Mais até, já produz inquietações naqueles que são agentes destas práticas, estarrecidos com a racionalidade insensível que alimenta a cadeia de produções e produtos chamados de saúde, e intranquilos quanto ao que lhes espera, uma vez que atravessem o umbral tênue que separa agentes de pacientes. São estas as tarefas a que se têm entregues mulheres e homens envolvidos na tarefa de produzir agentes e cuidar de pessoas (pacientes) aqui e acolá, do mais simples ao mais tecnologicamente denso ou complexo. Tarefas tão indissociáveis quanto para as quais inexistam em número suficiente espaços de compartilhamento das experiências, vivências e reflexões produzidas diante e para estes desafios. Afinal, o mundo dos periódicos científicos tem, cada vez mais, se especializado em nichos e focos, em que cada um procura marcar um aspecto identitário, ora se apresentando como publicação especializada em X, ou em Y, e no máximo em Z+W.            Por estes motivos, é jubiloso o lançamento deste segundo número dos Cadernos de Educação, Saúde e Fisioterapia, uma publicação da Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO), que nasceu como "veículo para a divulgação das produções nas interfaces da saúde/educação, a fim de proporcionar a interlocução entre os diversos saberes, alinhado às demandas da sociedade". Se seu objetivo é a consolidação e difusão dos conhecimentos produzidos em uma perspectiva mais abrangente e próxima da realidade da saúde e da educação, tampouco deixa de considerar que esta interface é a própria alma da reunião das duas áreas. E todas as vezes que nela mergulhamos como estudantes, preceptores, tutores, aprendizes, residentes, apoiadores, facilitadores, ou qualquer que seja o nome que se dê ao que fazem todos os envolvidos na tarefa de produzir cuidado a saúde e/ou reproduzir os agentes necessários a este mister.            Os artigos que vão publicados neste número dizem muito sobre a natureza multidimensional do que constitui objeto de interesse para o debate, a reflexão e o compartilhamento deste espaço. No primeiro deles, o que se discute e se apresenta, ao fim e ao cabo, é o para quê fazer reforma curricular se não for para colocar o aluno/estudante na posição ativa de sujeito do seu aprendizado? Complementar a este o quê, e diríamos dialeticamente complementar, é a interrogação em outro artigo, sobre o saber/fazer professor, ou tornar-se um dos pólos do processo ensino-aprendizagem, se não for potencializar aquele mesmo papel ativo do sujeito que aprende em sintonia com aquele sujeito que ensina a aprender, e sob esta ótica refletir sobre a inversão de rota e de paradigmas, vez que neste caso que se relata o que se articula é teoria e prática do ensinar/aprender e a avaliação dos estudantes, que por terem se tornado sujeitos ativos, precisa também esta última ser revista e adequada. Seguem-se artigos, dois, em que se abordam as dimensões subjetivas da vivência de situações por pessoas sob cuidado e/ ou seus cuidadores. No primeiro caso, os impactos na qualidade de vida de mães cuidadoras de filhos com condições permanentes de agravos a saúde; no segundo caso, das sensações dos estudantes estagiários em unidades de terapia intensiva, lugar em que se convive com situações graves e limitadas de saúde Da vertente promoção da saúde, temos o artigo que aborda as influências da mídia e de fatores sócio ambientais no uso do tabaco por jovens e adolescentes. Por fim, mas não por último, um artigo aborda outra das questões cruciais nestes tempos de reformas e rupturas na formação, que é o dimensionamento da visão atingida por estudantes do último ano de graduação acerca do papel do fisioterapeuta na atenção básica, esta pedra angular do sistema nacional de saúde, para a qual se persegue, cada vez mais, efetivação e transformação em foco de interesse para a formação profissional em saúde.Eis aí, em toda a sua riqueza e multiversidade, o mosaicismo constituinte das práticas de educação e saúde reunidas. Vida longa aos Cadernos!  

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Publicado

28-07-2015