A EDUCAÇÃO POSTURAL EM JOGO: CULTURA, INFÂNCIA E COMUNIDADE

Autores

  • Thatiane Lopes Valentim Di Paschoale Ostolin UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
  • Fernanda Flávia Cockell UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
  • Vinicius Demarchi Silva Terra UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

Resumo

INTRODUÇÃO: Partindo do pressuposto de que a postura é uma expressão do corpo que construímos socialmente a partir aspetos psicomotores, funcionais, culturais e ambientais, sugere-se que o empoderamento contribui para a cultura de valorização da saúde postural. Para que isso seja possível, o brincar se apresenta como expressão da própria cultura infantil, que pode ser abordado na perspectiva de construção de saúde. A partir da necessidade de problematizar as implicações do contexto social e das mudanças contemporâneas do brincar na comunidade do Morro Nova Cintra em Santos-SP, surgiu a ideia de utilizá-lo em associação aos conceitos desenvolvidos por Rudolf Laban sobre a experiência do movimento como cenário para o desenvolvimento de ações de orientação e educação postural para crianças de cinco a seis anos. OBJETIVOS: Investigar metodologias de Educação Postural voltadas para 60 crianças de 5 e 6 anos a partir das singularidades do brincar e seu espaço-tempo observados no contexto escolar da comunidade do Morro Nova Cintra em Santos, São Paulo. METODOLOGIA: O estudo com viés descritivo interpretativo, de natureza qualitativa, desenvolveu-se enquanto pesquisa-ação em escola da comunidade e realizada através de metodologia participativa, na qual as crianças são sujeitos do conhecimento e parceiras na investigação. Ao todo, foram elaborados e implementados 5 encontros semanais de práticas corporais com duração de 40 a 60 minutos. Associando o brincar aos conceitos de Laban, os encontros tiveram 5 momentos e temas, respectivamente: Ação, Transição, Amplitude, Permanência e Conversa; e Espaço, Fluência, Peso, Tempo e Sentidos. Diante disso, o programa desenvolveu-se através da orientação de posturas corporais, que possam permitir movimentação com segurança gestual, rompendo com saberes e fazeres tradicionais, como práticas normativas e o mito da postura correta. Os resultados foram descritos e discutidos por meio da análise de conteúdo e da escrita sistematizada de diários de campo. RESULTADOS: O programa favoreceu a compreensão das relações entre emoções e postura, estados de tensão muscular, variações de amplitude, permanência prolongada e desconforto. Com participação ativa das crianças, a gestão do brincar emergiu como ferramenta de preservação e cuidado de si. Jogos de teatro e vertigem marcaram posturas libertárias e políticas no brincar ganhando o chão e ao desafiar o parque. Espontâneos, demonstraram a busca por espaço isolado da coerção e disciplinarização, tal qual expressão de discurso pela vida, intensificando sensações e percepções esmaecidas e anestesiadas pela rotina escolar. Como desafios, destaque para distanciamento das professoras, falta de estrutura e pessoal. CONCLUSÃO: O diálogo saúde e cultura revelou perspectivas potenciais e transformadoras para a atuação interdisciplinar na prevenção primária e promoção de saúde da criança. Acredita-se que o brincar enquanto expressão cultural pode ser tratado na escola no panorama de produção de saúde, relativizando e favorecendo a experiência e a expressividade corporal, assim como contribuindo para a valorização e cuidado com a postura de maneira prolongada.