FATORES ASSOCIADOS À NEGLIGÊNCIA DE IDOSOS: ANALISANDO OS CASOS NOTIFICADOS NO ESPÍRITO SANTO
Resumo
Introdução: A violência contra o idoso vem ganhando cada vez mais visibilidade nos círculos de debate da saúde, principalmente pelas suas consequências devastadoras para a saúde da pessoa idosa. Em 2011, este agravo foi incluído a lista de doenças e agravos de notificação compulsória pelos profissionais de saúde dos setores públicos ou privados, e passou a ser objeto de Vigilância Epidemiológica. Objetivo: Verificar os fatores associados à prática de negligência praticada contra a pessoa idosa, no Espírito Santo. Metodologia: Foi conduzido um estudo analítico transversal, utilizando-se dos dados notificados da violência contra a pessoa idosa, registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação do Espírito Santo, entre 2011 e 2018. As notificações foram analisadas segundo tipo de violência, e a partir de então foi procedido o recorte dos 296 casos de negligência; as variáveis independentes foram compostas pelas características da vítima - faixa etária, sexo, raça/cor, escolaridade, e presença de deficiência/transtorno; as características do agressor - idade em anos, sexo, vínculo e uso de álcool; e características da agressão - número de envolvidos, se ocorreu na residência, turno, repetição, zona, motivação por intolerâncias. Os dados foram analisados através do Qui-Quadrado e da Regressão de Poisson bruta e ajustada com os valores expressos em Razão de Prevalência. Resultado: Após ajuste para os fatores de confusão, a negligência se mostrou 4,39 vezes mais prevalente entre os idosos com 80 anos ou mais, 45,0% mais frequente nos de cor preta, 34,0% maior entre aqueles com companheiro, e, 3,42 vezes mais prevalente em idosos com algum tipo de deficiência/transtorno. Os filhos são frequentemente os principais perpetradores da negligência (RP: 31,60), não havendo suspeita de abuso de álcool no momento da agressão (RP: 2,98). A ocorrência da negligência foi 3,31 vezes maior na residência, em comparação àquelas ocorridas em outros ambientes, 3,82 vezes mais do tipo violência de repetição, e, 3,0 vezes mais frequente na zona urbana e sem motivação por intolerância (RP: 2,97). Conclusão: Os resultados aqui encontrados apontam para a existência de fatores potencialmente relacionados ao aumento dos casos de negligência, nas características do próprio idoso, do agressor e da agressão. Estudos mostram que a negligência ainda é a principal forma de violência contra o idoso cometida no Brasil, e é importante destacar que os achados deste estudo apontam para uma agressão comumente relacionada ao convívio familiar, o que tem se traduzido em preocupação, em razão da maior dificuldade de detecção e prevenção. A violência contra a pessoa idosa ainda é vista como algo velado, possuindo pouca visibilidade na nossa sociedade, portanto, entende-se que a realização de estudos, como este que se apresenta, é uma etapa fundamental para melhorar a compreensão e auxiliar no controle deste agravo.Publicado
26-09-2019
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Trabalhos de Pesquisa - Eixo I Atenção Integral à Saúde
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