Análise das trajetórias assistenciais ofertadas às mulheres em situação de violência doméstica de gênero na Atenção Primária à Saúde

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18310/2446-4813.2022v8n3p163-181

Palavras-chave:

Gênero e saúde, violência de gênero, Atenção Primária à Saúde, Violência contra a Mulher

Resumo

Objetivo: analisar a assistência prestada às mulheres em situação de violência doméstica de gênero em serviços de Atenção Primária à Saúde, no município de São Paulo, no Sistema Único de Saúde. Método: A análise se deu a partir de quatro fluxogramas analisadores construídos com base nas informações coletadas em prontuários, como das entrevistadas realizadas com quatro mulheres em situação de violência, e dos 13 profissionais de saúde envolvidos na assistência dessas mulheres, analisados sob a metodologia Análise de Conteúdo. Resultados: As narrativas mostram que as mulheres “desabafam” para os trabalhadores, principalmente para os Agentes Comunitárias de Saúde. A violência é frequente e reconhecida, mas se torna um problema para a equipe de saúde quando há o envolvimento de crianças, ou um pedido de ajuda direto das mulheres. A assistência ofertada se mostra como tentativa dos profissionais de saúde em “consertarem” o problema da violência, com tendência às práticas prescritivas, ofertas genéricas, sem agregar as escolhas e os caminhos considerados possíveis pelas mulheres. Conclusão: Apesar das barreiras, percebe-se a inclusão da rede de enfrentamento e a compreensão da violência como uma barreira para se viver a vida.

Biografia do Autor

Maria Fernanda Terra, FCMSCSP

Professora Doutora no curso de Graduação em Enfermagem da FCMSCSP

Ana Flávia Pires Lucas d'Oliveira, Faculdade de Medicina/Universidade de São Paulo

Professora Doutora. Departamento de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da USP

Referências

Scott JW. Gender: a useful category of historical analysis. The American Historical Review. 1986; 91(5):1053-75.

Organización Mundial de la Salud. Comprender y abordar la violencia contra las mujeres. Consecuencias para la salud. Washington, DC: OPS; 2013.

Abramo P. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado (Pesquisa de opinião pública). São Paulo: SESC/ Fundação Perseu Abramo; 2010.

Schraiber LB, d’Oliveira AFPL, Couto MT, Hanada H, Kiss LB, Durand JG, Puccia MI, Andrade MC. Violência contra mulheres entre usuárias de serviços públicos de saúde da Grande São Paulo. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(3):359-67.

Brasil. Lei n. 11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Diário Oficial da União. Brasília (DF). 2006.

Brasil. Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; Secretaria de Políticas Para as Mulheres. Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres; 2011.

São Paulo. Portaria n. 1.300 de 15 de julho de 2015. Diário Oficial do Município. São Paulo (SP). 2015 15 jul;128.

Brasil. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

Aguiar JM, d’oliveira AFLP, Schraiber LB. Mudanças históricas na rede intersetorial de serviços voltados à violência contra a mulher – São Paulo, Brasil. Interface (Botucatu). 2020; 24:1-16.

Bourdieu P. A dominação masculina. Tradução de Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2010.

Oliveira CC, Fonseca RMGS. Práticas dos profissionais das equipes de saúde da família voltadas para as mulheres em situação de violência sexual. Rev. esc enferm USP. 2007; 41(4):605-12.

Mendes-Gonçalves RB. Tecnologia e organização social das práticas de saúde: características tecnológicas do processo de trabalho na rede estadual de Centros de Saúde de São Paulo. São Paulo: Hucitec/ ABRASCO; 1994.

Starfield LB. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO/ Ministério da Saúde; 2002.

Schraiber LB. Necessidades de saúde, políticas públicas e gênero: a perspectiva das práticas profissionais. Ciênc. saúde coletiva. 2012; 17(10):2635-44.

Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1979.

Merhy EE, Chakkour M, Stéfano E, Stéfano ME, Santos CM, Rodrigues RA, Oliveira PCP. Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalhos. In: Merhy EE, Onocko R. Agir em Saúde: desafio para o público. São Paulo: HUCITEC; 2006.p.35-63.

Mendes JDV, Osiano VLRL. Consultas médicas de atenção básica nas RRAS do Estado de São Paulo. Gais informa (Boletim Eletrônico do grupo técnico de avaliação e informações em saúde da Secretaria de Estado da Saúde de SP). 2012; 4(16):1-19.

Oliveira BG, Freire IV, Assis CS, Sena ELS, Boery RNSO, Yarid SD. Responsabilidade dos profissionais de saúde na notificação dos casos de violência. Rev. Bioét. 2018; 26(3):403-11.

Signorelli MC, Taft A, Pereira PPG. Domestic violence against women, public policies

and community health workers in Brazilian Primary Health Care. Ciência e Saúde Coletiva. 2018; 23(1): 93-102.

Soares JSF, Lopes MJM. Experiências de mulheres em situação de violência em busca de atenção no setor saúde e na rede intersetorial. Interface (Botucatu). 2018; 22(66):789-800.

d’Oliveira AFPL, Schraiber LB. Mulheres em situação de violência: entre rotas e redes intersetoriais de atenção. Rev Med (São Paulo). 2013; 92(2):134-40.

Pereira FF. A reincidência da violência contra meninas e mulheres pobres do município do rio Grande/RS [Recurso Eletrônico]. Rio Grande/RS: Ed. Da FURG, 2021.

Assis SG, Avanci JQ. É possível prevenir a violência? Refletindo sobre risco, proteção, prevenção e promoção da saúde. In: Njaine K, Assis SG, Constantino P, Avanci JQ. eds. Impactos da Violência na Saúde [online]. 4th ed. Rio de Janeiro: Coordenação de Desenvolvimento Educacional e Educação a Distância da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP, Editora FIOCRUZ, 2020, pp. 77-105.

Brasil. Rede HumanizaSUS. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.

Azambuja MPR, Nogueira C. Introdução à violência contra as mulheres como um problema de direitos humanos e de saúde pública. Saúde e Sociedade. 2008; 17(3):101-12.

Ayres JRCM. Uma concepção Hermenêutica da saúde. Physis. 2007; 17(1):43-62.

Schraiber LM, d´Oliveira AFPL. O que devem saber os profissionais de saúde para promover os direitos e a saúde das mulheres em situação de violência doméstica. São Paulo: Fundação Ford/ CREMESP; 2002.

Simões AV, Machado JC, Soares IGB, Rodrigues VP, Pires VMM, Penna LHG. Identificação e conduta da violência doméstica contra a mulher sob a ótica dos estudantes universitários. Enfermería Actual de Costa Rica. 2019; 37: 95-109.

Downloads

Publicado

2022-12-29

Como Citar

Terra, M. F., & d’Oliveira, A. F. P. L. (2022). Análise das trajetórias assistenciais ofertadas às mulheres em situação de violência doméstica de gênero na Atenção Primária à Saúde. aúde m edes, 8(3), 163–181. https://doi.org/10.18310/2446-4813.2022v8n3p163-181

Edição

Seção

Artigos Originais