Crianças e condições crônicas complexas: análises sobre lugares e práticas de cuidado em saúde

Autores

  • Silvia Reis Universidade de Brasília Ministério da Saúde https://orcid.org/0000-0002-1628-3450
  • Larissa Polejack Universidade de Brasília
  • Isadora Cristine Dourado Araujo Universidade de Brasília
  • Milena Lima dos Santos Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.18310/2446-4813.2022v8n2p225-240

Palavras-chave:

alta hospitalar, assistência domiciliar, ventilação mecânica, cuidado da criança, doença crônica

Resumo

A necessidade de equipamentos e de cuidados permanentes às crianças com condições crônicas complexas, a exemplo das dependentes de ventilação mecânica (VM), muitas vezes resultam em internações hospitalares prolongadas, o que impõe dificuldades para as famílias e para o sistema de saúde. Esta pesquisa buscou mapear a existência de crianças dependentes de VM hospitalizadas no Distrito Federal e conhecer os desafios para sua desospitalização. Para tanto, foi realizada uma pesquisa-intervenção cartográfica, por meio do acompanhamento de processos de transição hospital-domicílio e da identificação das dificuldades a eles relacionadas. As pesquisadoras transitaram entre hospitais públicos do DF, domicílios e um abrigo institucional, realizando observação participante (registrada em diário de campo), leitura de prontuários e entrevistas semiestruturadas com mães e profissionais de saúde. Identificou-se que os atravessamentos do saber biomédico, a cultura hospital-centrada, bem como os sentidos atribuídos às crianças “crônicas” e “complexas”, definem o estabelecimento de práticas e lugares de cuidado, dificultando a desospitalização. A falta de capacitação e estrutura adequada para as equipes de atenção domiciliar, e a insuficiência de vagas no serviço de home care privado contratado pela Secretaria de Saúde também são fatores que dificultam esse processo. Concluiu-se que é necessário não só prover condições concretas para que as equipes de atenção domiciliar recebam este público, mas também desnaturalizar a noção de “crônicas” e “complexas”, ampliando a compreensão acerca da desospitalização dos usuários e desinstitucionalizando saberes e práticas, para que seja possível cuidar das crianças e suas famílias de forma singularizada e não burocrática.

Biografia do Autor

Silvia Reis, Universidade de Brasília Ministério da Saúde

Psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB), Pós graduada em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição. Analista Técnica de Políticas Sociais no Ministério da Saúde.

Larissa Polejack, Universidade de Brasília

Psicóloga pela Universidade de Brasília (UnB), Doutora em Processos do Desenvolvimento Humano e Saúde pela UnB. Professora Associada do Departamento de Psicologia Clínica e Cultura do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.

Isadora Cristine Dourado Araujo, Universidade de Brasília

Psicóloga pela Universidade de Brasília (UnB), pós graduanda em Psicologia e Educação pela Faculdade Única.

Milena Lima dos Santos, Universidade de Brasília

Psicóloga pela Universidade de Brasília (UnB), Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção ao Câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

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Publicado

2022-09-11

Como Citar

Reis, S., Polejack, L., Dourado Araujo, I. C., & Lima dos Santos, M. (2022). Crianças e condições crônicas complexas: análises sobre lugares e práticas de cuidado em saúde. aúde m edes, 8(2), 325–340. https://doi.org/10.18310/2446-4813.2022v8n2p225-240

Edição

Seção

Artigos Originais