Violência Obstétrica: perspectiva de médicos professores de Obstetrícia
DOI:
https://doi.org/10.18310/2446-4813.2021v7n3p313-324Palavras-chave:
Parto, Violência Obstétrica, Obstetrícia, educação Superior, Educação ProfissionalResumo
Objetivo: analisar a percepção de médicos professores de obstetrícia sobre violência obstétrica. Método: trata-se de uma pesquisa qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas, com dez obstetras que atuam como docentes de uma faculdade de Medicina na cidade do Rio de Janeiro. O projeto foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: a discussão captou diferentes nuances do tema proposto, tais como os múltiplos sentidos do termo violência obstétrica; os diferentes pontos de vista sobre a autonomia das mulheres; sobre o papel das políticas públicas em questão ao problema e as críticas ao que os médicos entendem como violência reversa. Observa-se que grande parte dos médicos professores desconhece a acepção específica do termo e o acha inadequado e ofensivo à categoria médica. Resumem a violência obstétrica a agressões físicas e pensam a autonomia das mulheres como uma instância que deve ser limitada pela autoridade médica. Embora conscientes do problema, apresentam uma postura defensiva frente a questão, vendo-a como uma forma de diferentes grupos se voltarem contra sua corporação. Conclusão: tendo em vista a importância da atuação do professor na formação dos médicos e o fato de que para além da formação técnica, o contato com os professores formata comportamentos, reflexões, práticas e até mesmo valores dos acadêmicos, conclui-se que é necessário a desmitificação da violência obstétrica, tendo como base o maior conhecimento docente sobre os aspectos mais controversos da humanização do parto e maior reconhecimento do das questões de poder e autonomia que subjazem a relação dos médicos com as parturientes.Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Despacho de 03 de maio de 2019 [Internet]. 2019 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: https://sei.saude.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=9087621&codigo_crc=1A6F34C4&hash_download=c4c55cd95ede706d0b729845a5d6481d07e735f33d87d40984dd1b39a32d870fe89dcf1014bc76a32d2a28d8f0a2c5ab928ff165c67d8219e35be
Conselho Federal de Medicina. Parecer 32/2018 [Internet]. 2018 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: http://old.cremerj.org.br/downloads/835.PDF
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento [Internet]. Caderno Humaniza SUS. Brasília: Ministério da Saúde. Universidad Estadual do Ceará; 2014 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf
O Globo. MPF e OAB cobram que Ministério da Saúde volte atrás na decisão de abolir termo “violência obstétrica” [Internet]. 2019 [citado 9 maio 2019]. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/celina/mpf-oab-cobram-que-ministerio-da-saude-volte-atras-na-decisao-de-abolir-termo-violencia-obstetrica-23652278
FEBRASGO. Nota de apoio da Febrasgo ao despacho do Ministério da Saúde sobre a utilização da expressão “violência obstétrica” [Internet]. 2019 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/799-nota-de-apoio-da-febrasgo-ao-despacho-do-ministerio-da-saude-sobre-a-utilizacao-da-expressao-violencia-obstetrica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção primária à saúde. Ofício de 07 de junho de 2019 [Internet]. 2019 [citado 23 set 2020]. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/docs/oficio-ms
G1. Ministério da Saúde reconhece legitimidade do uso do termo “violência obstétrica”. Caderno Ciência e Saúde [Internet]. 10 jun 2019 [citado 23 set 2020]; Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/10/ministerio-da-saude-reconhece-legitimidade-do-uso-do-termo-violencia-obstetrica.ghtml
Diniz SG, Salgado H de O, Andrezzo HF de A, Carvalho PGC de, Carvalho PCA, Aguiar C de A, et al. Violência obstétrica como questão para a saúde pública no Brasil: origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materba, e propostas para a sua prevenção. J os Hum Growth Dev [Internet]. 2015 [citado 15 dez 2019];25(3):377–376. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/jhgd/article/view/106080
Venturini G, Bokany V, Dias R. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado [Internet]. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Sesc; 2010 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: https://apublica.org/wp-content/uploads/2013/03/www.fpa_.org_.br_sites_default_files_pesquisaintegra.pdf
Rede Parto do Princípio. Violência Obstétrica “Parirás com dor” Dossiê elaborado pela Rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres [Internet]. Brasília - DF: Senado Federal; 2012 [citado 2 ago 2016]. p. 1–188. Disponível em: https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC VCM 367.pdf
Zanardo GL de P, Uribe MC, Nadal AHR De, Habigzang LF. Violência obstétrica no Brasil: uma revisão narrativa. Psicol. Soc [Internet]. 2017 [citado 20 jun 2020];29(e155043). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822017000100218&lng=en&nrm=iso
OMS. Organização Mundial da Saúde. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde [Internet]. 2014 [citado 30 jul 2016]. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/134588/3/WHO_RHR_14.23_por.pdf
Aguiar JM de, D’Oliveira AFPL, Schraiber LB. Violência institucional, autoridade médica e poder nas maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde. Cad Saude Publica [Internet]. 2013 [citado 20 jun 2020];29(11):2287–96. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2013001100015&lng=en&nrm=iso
Palharini LA. Autonomia para quem? O discurso médico hegemônico sobre a violencia obstétrica no Brasil. Cad. Pagu [Internet]. 2017 [citado 23 set 2020];29(e174907). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332017000100307&lng=pt&nrm=iso
Sens MM, Stamm AMN de F. A percepção dos médicos sobre as dimensões da violência obstétrica e/ou institucional. Interface (Botucatu) [Internet]. 2019 [citado 2 mar 2020];23(e170915):1–16. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v23/1807-5762-icse-23-e170915.pdf
Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2011. 229 p.
Brasil. Ministério da Saúde. Resolução n.o 466 de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretriz e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde [Internet]. 2012 [citado 20 jun 2020]. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf
Nakano AR, Bonan C, Teixeira LA. O trabalho do obstetra: estilo de pensamento e normalização do “parto cesáreo”. Physis [Internet]. 2017;27(3):415–32. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312017000300415&lng=en&nrm=iso
Sens MM, Stamm AMN de F. Percepção dos médicos sobre a violência obstétrica na sutil dimensão da relação humana e médico-paciente. Interface (Botucatu) [Internet]. 2019 [citado 20 jun 2020];23(e180487):1–16. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832019000100255&lng=en&nrm=iso
Diniz SG. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciênc saúde coletiva. 2005;10(3):627–37.
Nicida LR de A, Teixeira LA da S, Nakano AR, Bonan C. Medicalização do parto: os sentidos atribuídos pela literatura de assistência ao parto no Brasil. Ciênc. Saúde Colet. [Internet]. [citado 20 jun 2020]. Disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/medicalizacao-do-parto-os-sentidos-atribuidos-pela-literatura-de-assistencia-ao-parto-no-brasil/17102?id=17102
Rios IC, Schraiber LB. A relação professor-aluno em medicina - um estudo sobre o encontro pedagógico. Rev Bras Educ Med [Internet]. 2012 [citado 20 jun 2020];36(3):308–16. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022012000500004&lng=en&nrm=iso%3E. access on 01 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S0100-55022012000500004
Doneto S. Medical students’ views of power in doctor–patient interactions: the value of teacher–learner relationships. Med Educ. 2010;22(2):187–96.
D’Oliveira AFPL, Diniz SG, Schraiber LB. Violence against women in health-care institutions: an emerging problem. Lancet [Internet]. 2002 [citado 2 mar 2020];359(May 11):1681–5. Disponível em: https://www.academia.edu/21815298/Violence_against_women_in_health-care_institutions_an_emerging_problem
Hotimsky SN. A violência institucional no parto no processo de formação médica em obstetrícia. I ENADIR [Internet]. 2009 [citado 15 ago 2018]. Disponível em: https://www.academia.edu/21564891/A_violência_institucional_no_parto_no_processo_de_formação_médica_em_obstetrícia
Sena LM, Tesser CD. Violência obstétrica no Brasil e o ciberativismo de mulheres mães: relato de duas experiências. Interface (Botucatu) [Internet]. 2017 [citado 20 jun 2020];21(60):209–220. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832017000100209&lng=en&nrm=iso
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais para artigos publicados neste periódico são do autor, com os direitos de publicação para o periódico. Este periódico é de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no link a seguir https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR).